23 de fevereiro de 2018, sexta-feira, 7:30 da noite. Finalmente após 6 semanas trabalhando em Michigan, meu marido voltou pra casa e eu preparei um jantarzinho bem especial pra que pudéssemos matar a saudade dele. Eu e os meninos (nossos 2 filhos) estávamos super curiosos pra saber como era a vida na terra do tio Sam. Afinal de contas, lá seria o nosso próximo destino, quando o ano letivo acabasse. Após 4 anos desafiantes e maravilhosos em Paris, estávamos de mudança mais uma vez.
Havia uns dias que eu estava sentindo meu coração bater de uma forma diferente. Mais acelerado. E isso me chamou atenção, apesar de não ter tirado o meu sono. Porém, depois do jantar, além do coração disparar, tive um pico de pressão e a sensação era que eu iria enfartar ali, no meio da sala de jantar, caso não agisse rapidamente. Em 5 minutos estávamos dentro do carro, correndo para o hospital.
Chegando lá, minha pressão já estava bem mais baixa e os batimentos cardíacos dentro dos padrões de normalidade. Os médicos investigaram as possíveis causas, fizeram alguns exames de sangue, um eletrocardiograma e após o resultado dos mesmos, me mandaram pra casa. Estava tão exausta que dormi imediatamente.
Quando acordei no dia seguinte, os sintomas se repetiram. Não pestanejei e corri pro hospital novamente! A minha sorte é que o médico que me atendeu na noite anterior, ainda estava lá. E desta vez, a minha pressão estava mais alta. Devido a isso, ele acionou o cardiologista de plantão e a partir daí foram 4 meses de idas e vindas ao hospital, dezenas de exames, picos de pressão e taquicardia e tentativas de descobrir o que estava acontecendo.
Apesar da genética familiar não ajudar (pai cardiopata e irmão com 3 pontes de safena aos 43 anos), graças a Deus, eu não apresentei nenhum problema cardíaco, que era a principal preocupação dos médicos. Após ter esgotado as possibilidades, o neurologista que estava me acompanhando durante os últimos meses, resolveu me prescrever uma medicação para ansiedade.
De cara discordei do diagnóstico! Não conseguia identificar em mim nenhuma característica de ansiedade. Tudo bem que eu estava numa correria danada, mas não me lembro de minha vida ser muito diferente disso. E, honestamente, isso nunca foi um problema. Até porque sempre fui uma pessoa muito cheia de energia.
A contragosto aceitei fazer o tratamento pois não suportava o desconforto que a leve alta da pressão me causava. Tomei a medicação por algum tempo e 1 mês após a nossa mudança pra Michigan os sintomas foram desaparecendo e o tratamento foi encerrado.
O fato de mudar novamente de país, se adaptar à cultura, fazer uma rede de relacionamento não é tarefa fácil. Mas foi uma escolha nossa. A rotina de meu marido pouco mudou. E pra melhor! Pela 1ª vez na vida ele estava trabalhando perto de casa. O futebol abriu as portas para os nossos filhos e quando as aulas começaram, foi muito mais fácil pra eles fazer amizades. E eu? Claro que tive que me reinventar e organizar a casa rapidamente para não impactar a nossa rotina familiar. Como a vida em Michigan é muito pacata (ao contrário de Paris e Salvador), concentrei meus esforços em buscar alternativas de lazer e entretenimento para os meninos. Queria que eles achassem que a mudança valeu à pena!
A realidade é que nós mulheres somos educadas para desempenhar um papel multifuncional e acreditamos que podemos fazer mil coisas ao mesmo tempo, de forma impecável, sem nos questionarmos o porquê. Não analisamos as consequências dessa postura que assumimos. Ligamos o piloto automático e vamos. Mas tem horas que o motor dá uma pane! E já que não paramos por decisão própria, o nosso corpo, inteligentemente, ativa o modo sobrevivência e nos para.
Hoje olho pra trás e reconheço que vivi um período mais atribulado, que desencadeou em mim um processo de stress e, consequentemente, de ansiedade, sem que eu percebesse. E não há nada de errado com isso! Se organizar a rotina da casa e cuidar dos filhos dá um puta trabalho, imagine organizar sozinha uma mudança para outro país (só quem já passou por isso sabe do que estou falando)!
Essa tal de ansiedade entrou em minha vida, sem que eu percebesse e, por pouco, não fez um estrago maior. Resolvi dedicar algum tempo para aprender mais sobre ela. Sabe o que eu descobri? Ela detesta vida ativa, respiração profunda, meditação, atividade física, pensamentos positivos, propósito, foco, organização, alimentação saudável, autoconfiança e amigos por perto. Decidi me associar a todos eles. Tão cedo ela não dará as caras por aqui!
E você, o que está fazendo pra manter distância dela?
Crédito Foto: Ryan McGuire por Pixabay
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