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Por que estamos buscando sempre o que não temos?


Não sei você, mas eu não gosto de frio. Preciso de pouca coisa pra me sentir feliz e o sol quente e um banho de mar encabeçam a minha pequena lista. E olha só aonde eu vim parar: em Michigan! Aliás, você já ouviu falar de Michigan? É um dos 50 estados americanos, localizado na região norte- nordeste do país, fazendo fronteira com o Canadá. Um dos estados mais frios dos Estados Unidos e um dos mais lindos em termos de natureza! Detroit é a sua cidade mais famosa e já foi uma das mais desenvolvidas do país. Ela é a capital da indústria automobilística nacional. E esse é o motivo pelo qual eu moro aqui há quase 3 anos. Meu marido trabalha na indústria automobilística há mais de 20 anos e depois de morarmos 4 anos em Paris, ele foi transferido pra cá.


O inverno de Michigan é frio e longo, principalmente para uma baiana como eu. Se não fosse a passagem por Paris, que tem as 4 estações bem definidas (ao contrário de Salvador que temos Verão e Verão com chuva), eu teria dado meia volta no primeiro inverno. E esse inverno foi o mais difícil, pois devido à pandemia, não pudemos ir pro Brasil no final do ano, como costumávamos fazer desde que embarcamos nessa aventura de morar fora. E aí ficamos sem o calor do sol e o calor humano da família e amigos que tanto amamos.


Photo: @michigantravelist


O resultado disso é que em fevereiro eu cheguei ao meu limite. Já estava sem ânimo e meu coração começou a dar sinais de ansiedade batendo à porta. Como eu não queria correr o risco de ir pra Florida e não ter sol e banho de mar garantidos, decidimos ir pra Cancun, no México. Meu marido conseguiu tirar 1 semana de férias e embarcamos felizes da vida!


Chegando lá quase chorei de emoção quando fui fortemente abraçada pelo calor que muitos chamariam de “infernal”. Era tudo que eu precisava! Pela estrutura que tínhamos à nossa disposição, não precisávamos sair do hotel Para absolutamente nada. Até porque a praia (uma das razões principais de estarmos lá) estava a menos de 50 metros da piscina.

Na manhã seguinte, fomos até o Concierge para obter informações sobre alguns serviços do hotel e quando percebemos, estávamos comprando “um passeio imperdível à ilha mais linda de Cancun – Isla Mujeres” (palavras do vendedor). Aposto que se você visse as fotos que o vendedor me mostrou, você também teria dito sim e puxado seu cartão de crédito sem pestanejar. Já me imaginei naquele lugar paradisíaco, com o mar de uma cor que nunca vi igual, me deliciando naquela água morna e cristalina. Ele me mostrou umas fotos de redes no mar e já imaginei as minhas postagens deitada numa dessas redes...


Expectativa

Não sei como ainda caio nessas armadilhas!


Realidade

Me senti um estrangeiro dentro de um taxi onde o motorista dá uma volta na cidade para te cobrar mais caro enquanto a corrida deveria ter duração de menos de 10 minutos. E aí fiquei pensando o que me fez acreditar no que o vendedor estava me vendendo.


Como mencionei no início do texto, saí do Brasil há 7 anos pra morar na França e nos Estados Unidos. Nesses países, situações como essas não são muito comuns. Principalmente aqui nos Estados Unidos, onde o consumidor tem direito a desistir da compra sem precisar justificar e ter seu dinheiro de volta. Ou de não gostar do que comprou reclamar e ser indenizado. A gente se acostuma rápido com o que é bom!


Algumas pessoas que estavam no mesmo barco que nós começaram a questionar umas as outras o que estavam achando e quanto tinham pago pelo passeio (cada um pagou um valor diferente!). Em questão de minutos estavam todos insatisfeitos e achando injusto o que foi cobrado devido ao que ter sido prometido não ter sido entregue.


Como já estávamos lá, tentamos aproveitar o pedacinho de praia que não tinha aglomeração. Era o que tínhamos naquele momento. Mesmo insatisfeita com o cheiro da água e a consistência mole da areia (o que me remetia a mangue), fiquei um bom tempo no mar. Afinal de contas, em Michigan o termômetro estava marcando uns bons graus a menos e não existe mar.


Mas por que eu escrevi esse texto? Porque me dei conta que estamos sempre buscando o que não temos, ao invés de valorizarmos e aproveitarmos o que temos, seja o que for! Lugares, pessoas, momentos.


O que me fez decidir comprar o passeio, além do papo do vendedor e das fotos que ele me mostrou, foi o fato da praia do hotel estar interditada. Devido a um tornado no Alabama, uma enorme quantidade de algas marinhas chegou até a costa de Cancun e a era impossível entrar no mar. Então não me restou outra opção.

Porém, eu fiquei me questionando se mesmo com a praia do hotel liberada eu seria capaz de conter a minha curiosidade e simplesmente aproveitar aquela estrutura maravilhosa que eu já tinha à minha disposição. Em tempos de redes sociais, a praia do vizinho é sempre mais transparente, mais bonita e mais quente. Será mesmo? Mesmo com toda a insatisfação das pessoas que estavam no barco, o que mais vi foram selfies (sempre buscando os melhores ângulos, é claro!).


Você tem alguma dúvida que as legendas eram algo do tipo: “um paraíso chamado Isla Mujeres”? Agora se imagine seguindo alguma(s) dessas pessoas no Instagram. Obviamente, como a grande maioria, você ficaria babando ao ver aquelas fotos maravilhosas “da ilha mais linda de Cancún”. Me responda com sinceridade: se tivesse a chance, você resistiria à oferta do vendedor ou não perderia por nada a oportunidade de conhecer esse paraíso na terra, como eu fiz?

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